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Bem-Vindos a Marwen

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EUA, 2019 

Direção: Robert Zemeckis  

Roteiro: Caroline Thopson e Robert Zemeckis  

Elenco: Steve Carell, Leslie Mann, Diane Kruger
Prod: Cherylanne Martin, Jack Rapke, Steve Starkey e R. Zemeckis

Título original: Welcome to Marwen
Duração: 116 min  

Fabuloso e, até onde pode, sem pieguice

Por Ricardo P Nunes

   Existe um microcosmo particular com o qual todo mundo já brincou um dia, pelo menos nos sonhos da infância, pelo menos quem deu asas à imaginação. Em torno do demiúrgico ego infantil gira esse efêmero mundinho em miniatura, feito, sem que saiba, à sua imagem e semelhança. Em Bem-vindos a Marwen, do diretor Robert Zemeckis (de Forrest Gump e O Náufrago), porém, o que esse onírico mundinho fantástico tem de nobreza e coragem se dissipa quando a realidade chama, mas projeta no real o seu lado de tormentoso pesadelo, do qual o personagem interpretado por Steve Carell, Mark Hogancamp, não pode acordar.
    Mark Hogancamp é o nome na vida real do homem que inspirou o documentário em que se baseou o filme de Zemeckis, Marwencol (Open Face, 2010), um relato da vida do artista e fotógrafo que perdera a memória e algumas habilidades motoras ao sair do coma em que esteve após ser brutalmente espancado na saída de um bar em Nova Iorque.

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Zemeckis: efeitos visuais não só para expandir, mas também para aprofundar

   A imaginária Marwen do filme situa-se na Bélgica dos anos de 1940, que historicamente foi por onde os nazistas lançaram sua ofensiva contra a Europa na II Guerra Mundial. Como a lembrança mais remota de Mark são flashes da noite atroz, a vida em maquete não seria só um refúgio, mas a recriação de um mundo hostil cuja salvação depende do sucesso de um herói-de-guerra, o capitão Hogancamp, seu avatar, porque Mark enxerga na agressão nazista a mesma motivação dos homens que quase o mataram na saída da boate.
   Nas batalhas de sua inventiva fantasia, ele pode contar com o bem armado pelotão formado pelas mulheres que o resgataram, que se solidarizaram na clínica de reabilitação e o acolheram no dia-a-dia. Duas das habitantes desses seus devaneios encarnarão seu drama para além das cerquilhas do vilarejo de Marwen; uma delas parece simbolizar as sequelas paralisantes do trauma; a outra, a redenção da esperança no amor correspondido. O embate entre essas duas musas constitui o fio condutor psicológico da trama cheia de ação adornada por detalhadíssimos e encantadores efeitos visuais.

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Lentes da imaginação

   O filme de Zemeckis toca em temas caros e em suas dimensões mais pessoais, mas mesmo dentro da trama de brinquedo que se vai criando ele evita os apelos do piegas. Em um dado momento, uma das personagens suspira quando ouve um resumo do enredo que os bonecos encenam no lugarejo montado no quintal de Mark: “eu gostei ... mas é meio violento”. Bem-vindos a Marwen lida com esses dois opostos da vida, e de forma brilhante.  

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