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RISCADO

Brasil, 2010

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Direção: Gustavo Pizzi

Produção: Gustavo Pizzi e Cavi Borges

Roteiro: Gustavo Pizzi e Karine Teles

Edição: Paulo Camacho

Duração: 85 min

Por Ricardo P Nunes

     Em uma das falas da personagem principal de Riscado (Brasil, 2010), Bianca cita algumas qualidades que gostaria que um filme sobre si possuísse, entre elas estão “honestidade e delicadeza”. Bianca, alter ego da atriz que a interpreta, Karine Teles, não fala apenas da boca pra fora, como se diz. De honestidade e leveza o diretor Gustavo Pizzi soube deixar o filme repleto, mas é sua protagonista quem lhe confere esses traços com um semblante e uma expressão verbal de espantosa espontaneidade. 

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Teles: a voz da sinceridade

    O filme traz como que um roteiro dentro do outro roteiro, o real; mas o fictício, que os personagens vão tramando, vai aos poucos configurando o drama de alguém que todos nós de alguma forma podemos reconhecer e nos identificarmos na vida. Vivendo de bicos para conseguir pagar o aluguel, Bianca sonha com um grande filme para sua carreira; interessado na forma contundente com que ela revela essa sua busca durante os testes de seleção para um banco de talentos, um produtor internacional quer fazer de sua história o próprio roteiro de um filme que por sua vez, como no conto dos dois homens que sonham de as Mil e Uma Noites, promete ser a própria realização do sonho que ela busca desde o começo. Algo autobiográfico na vida da atriz Karine Teles, que também assina o roteiro a quatro mãos com o diretor, ela soube que o menos emocional possível seria a melhor forma de projetar o drama do seu próprio papel.

    Trata-se, no entanto, de um filme contido, o que seu diretor consegue compensar com diferentes estoques e formatos de câmera. Outro atenuante de seu ambiente constrito é a velha ubiquidade do sonhos prometidos que tanto afligem a humanidade, a qual Riscado mostra sob uma luz particular. 

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Sonho dentro de outro sonho

     Enfim, honesta a realidade pode até vir a ser, que a exibição dos fatos em si não constitui uma questão de bem ou mal; mas delicada, ou verdadeira, vai depender do lado de que se olha. A sutileza com que o filme tenta se conduzir talvez não tenha outro fim senão o de não se deixar levar pelo meramente brutal. Parece que, porque nunca sabemos claramente o que realmente define nosso destino, se sorte, se talento, se dinheiro, se o acaso das oportunidades, enquanto não obtemos resposta o que se nos espera é a resignada dignidade de tentar ensaiar um sorriso para não sairmos mal na cena do filme em que podemos não passar de meros figurantes do seu roteiro circular. .  

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Realidade: indelicadeza por trás da honestidade

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