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Entrevista ao Blog da Revista Conexão Literatura

     Ricardo Pontes Nunes nasceu numa família de sete irmãos em Timon, interior do Maranhão, em 1976, onde na infância, segundo conta, vivia grande parte do tempo dentro de um mundo povoado por seres e lugares que lhe pareciam assombrosos e irreais, o mesmo mundo fantástico que mais tarde, na adolescência, se lhe depararia novamente em seus primeiros contatos com a literatura. Morando atualmente em Manaus, depois de ter vivido no Rio de Janeiro e em São Paulo, busca recriar aquela antiga atmosfera em contos e ensaios. Afirma não crer na desalentada máxima teosófica de que, em essência, na ficção sejamos incapazes de criar coisas novas, como se nos limitasse um círculo de mitologemas que apenas se rearticularia e repetiria. “Pensar assim é acreditar que a vida já está dada”, declara. Demonstrar isso, segundo o autor, é uma das metas do seu livro de estreia na ficção: Entre Fados e Tumbas - e outros relatos mundanos.

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Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Ricardo Pontes Nunes: Não saberia dizer se houve um começo, um quando. Penso que isso já está na gente desde sempre, ainda que em germe, mesmo que não saibamos. Com o tempo, vamos percebendo que na verdade, como tudo, é uma espécie de reencontro. Ou seja, creio que existe algo que buscamos, enquanto leitores e autores, e que parece que nos espera, assim como na arte em geral, ou na espiritualidade. Pode ser uma forma de achar sentido na vida, talvez também de catarse, ou daquela anamnese a que se referia Platão.

 

CL: Você é autor do livro "Entre Fados e Tumbas". Poderia comentar?

R P N: É uma compilação de histórias, impressões, relatos que fui juntando, reais, imaginários, mistos, ao quais eu pretendi dar uma roupagem, um contorno literário, uma linguagem poética, reflexiva talvez. Penso que a literatura não é constituída só pelas histórias em si, mas sobretudo pela forma em que são contadas. Mas sem o recheio das histórias em si, muitas vezes se comete um abuso com a linguagem. O fato é que eu me reconhecia nas histórias que ouvia, em fragmentos de eventos que via acontecer, na vida mesma ou nos próprios livros, coisas que eu passei a tentar reconstruir, desenvolver um enredo por trás dos fatos centrais dessas experiências. Tenho para mim que a meta principal de Entre Fados e Tumbas é fazer com que o leitor compartilhe um pouco do que viveram aqueles personagens, suas dores, seus mistérios, suas esperanças.

 

CL: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?

R P N: Eu já possuía os esboços de alguns dos contos pelo menos há uns cinco anos. Depois que sentei decidido a concluí-lo no começo deste ano, acho que levei mais uns seis meses. Nesse meio tempo ainda escrevi os contos Os Deuses Facínoras e O Sonho de Viriato, assim que vi que dava para publicar. Alguns dos contos envolveram pesquisas relativamente longas, como O Cognoscível Paradeiro de Fawcett, porque baseava-se em fatos reais, e tive que ler livros inteiros para me aprofundar nos detalhes do misterioso desaparecimento do personagem; assim como para compor Aos Deuses Manes, que partiu de um epitáfio em latim de um túmulo encontrado em uma escavação no séc. XIX, e requereu uma certa pesquisa histórica, desde o sebo onde encontrei o livro contendo a inscrição do séc. III d. C.

 

CL: Poderia destacar um trecho que você acha especial em seu livro?

R P N: Como se trata de um livro de contos, cada um deles é como um trecho do livro todo, não é mesmo? Tenho, evidentemente, os meus preferidos, que nem sempre coincidem com os dos leitores. Mas posso dizer que as histórias em que atuam as personagens femininas como protagonistas foram os mais emocionais para mim quando procurava recompor os detalhes, porque falam de situações que sucederam na realidade com aquelas mulheres; neles, além da questão cronológica, quase não precisei inventar nada. Mas todos eles são também um pouco autobiográficos, inevitavelmente, obviamente até, porque são também fruto da própria maneira com que marcaram minha vida, da forma como eu apreendi aqueles acontecimentos, na linguagem que precisei utilizar para descrevê-los tal qual eu os havia sentido, recontá-los.

 

CL: Como o leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

R P N: O livro Entre Fados e Tumbas – e outros relatos mundanos está disponível em diversos sites da internet.

 

CL: Existem novos projetos em pauta?

R P N: Atualmente estou terminando a tradução de The Rise of Anthropological Theory, de Marvin Harris, que resolvi empreender por conta própria; nas últimas semanas iniciei um ensaio mais longo que pretendo lançar em livro, em linguagem literária, no começo do próximo ano, é sobre questões históricas relacionadas à primazia do advento das ciências modernas, do pensamento científico, digamos, no mundo ocidental.

 

Perguntas rápidas:

Um livro: A História Social da Arte e da Literatura, de Arnold Hauser

Um (a) autor (a): Jorge Luis Borges

Um ator ou atriz: Lima Duarte

Um filme: Sangue Negro, do diretor Paul Thomas Anderson

Um dia especial: Existem muitos, em diferentes instâncias das nossas vidas. Hoje, por exemplo, é um deles, por que não?

 

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

R P N: Apenas agradecer ao Conexão Literatura. Acho que disse o suficiente. O restante está no livro, acho que ele fala por si mesmo.

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Entrevista concedida por videoconferência em outubro de 2021

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