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EUA, 2007

Direção: Paul Thomas Anderson

Roteiro: P. T. Anderson

Produção: JoAnne Sellar, Daniel Lup e P. T. Anderson

Elenco: Daneil Day-Lewis, Paul Dano, Ciarán Hinds, Dillon Freaser

Música: Jonny Greenwood

​Título original: There will be blood

Duração: 158 min

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Sacrifício, Devoção e Poder

Por: Ricardo P. Nunes

O diretor Paul Thomas Anderson dá as mãos a Daniel Day-Lewis e Paul Dano para fundarem um clássico

    Existem, com diversas variações, algumas definições do que seja afinal um clássico; o único ponto unânime, porém, é o de que só o tempo é capaz de comprová-lo. Talvez esse, o tempo, seja o único atributo que falta para que Sangue Negro (There will be Blood, EUA, 2007), do diretor Paul Thomas Anderson, seja um clássico desde sua estreia. Baseado no romance Oil, lançado em 1927 por Upton Sinclair, um autor socialista e ingênuo - o que, dos anos de 1920 em diante, seria quase uma redundância - assume uma dimensão muito mais profunda, e grandiosa, em sua adaptação para as telas. Em tempos e lugares brutais, como fins do séc. XIX nos desertos da Califórnia, o pobretão Daniel Plainview (mais uma interpretação majestosa de Danial Day-Lewis) inicia sua ascensão de garimpeiro de unhas cheias de terra escura a magnata do petróleo sem jamais abandonar a brutalidade de outrora, apenas oculta ou adormecida, a que talvez tenha sido um dos principais combustíveis do motor de sua força de vontade. 

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A Dignidade do merecimento

   Por aqueles tempos, porém, outra forma de self made man, graçava pelo continente, a de homens implacáveis em sua busca por agregar os devotos de uma comunidade inteira em torno de suas igrejas messiânicas. O embate entre essas duas forças darão a tônica do filme; mas não apenas em sua dimensão simbólica, ideológica, mas no próprio e até literal engalfinhamento corporal dos indivíduos que as representam, Plainview e o pastor Eli Sunday (Paul Dano, em uma atuação não menos primorosa), contra quem aquele terá de dirigir algo mais que o desprezo. Outras extasiantes variáveis complementam o desenrolar do seus suspenses, o cenário composto de longos planos como que sempre iminente de fogo, sangue e surtos de loucura, assim como detalhes quase imperceptíveis na trama que sugerem algo de uma experiência autobiográfica extrema na vida de quem a concebeu, como o personagem que lança mão do subterfúgio de confessar os crimes que supostamente cometera em sua vida pregressa para ganhar a confiança de Plainview diante de tamanha, embora falsa, sinceridade, mas que será traído mais tarde por um lapso da memória que por óbvio nunca possuíra; ou o do sujeito que devota amor "verdadeiro" a uma criança porque sabe que com ela a seu lado fica mais fácil ser aceito dentro das propriedades que visita para perscrutar o subsolo. Além disso, os incidentes, e o imprevisível, e o opróbrio, e as imagens das lembranças que vão sendo soterradas juntos como os seus escrúpulos. 

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Plainview, o ciclo inapelável da solidão

  Em um livro de 1835, Alexis de Tocqueville insinuou que a sorte da América estava em ter podido conciliar sua religiosidade com o tipo de liberdade requerida pelos dogmas liberais, ao contrário da Revolução Francesa. Em Sangue Negro, como talvez na própria história americana, esses dois fatores motrizes do seu desenvolvimento como que tentam fazer uma espécie de prestação de contas acumulada de ressentimentos mútuos. Como nos poemas de Walt Whitman, considerado por muitos o pai fundador literário dos EUA, assim como o Great Gatsby, o filme de Paul Thomas Anderson incorpora algo dessa dimensão clássica ao englobar e traduzir em grande e duradoura escala o espírito de uma nação. Enfim, um clássico, contrariando aquele senso comum, mesmo um clássico, não deixa de pertencer a seu tempo, ou seja, a qualquer tempo que assim o considere; por isso, podemos declarar, sem medo do julgamento futuro, que o filme de Thomas Anderson já é um clássico pelo simples motivo de já ter nascido nessa categoria. 

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